Dorival Júnior e o feijão com arroz cinco estrelas
Entre as alternativas razoáveis e possíveis,
é difícil pensar em um nome mais adequado do que
Dorival Júnior para assumir a seleção brasileira neste momento.
Entre as alternativas razoáveis e possíveis,
é difícil pensar em um nome mais adequado do que Dorival Júnior para assumir a seleção brasileira neste momento.
E já em sua primeira manifestação o técnico deixou claro os motivos que o credenciam: antes de mais nada,
é um profissional com espírito agregador, e diversos são os jogadores
já comandados por ele que exaltam o ambiente que Dorival é capaz de proporcionar.
É verdade que Dorival Júnior, talvez ainda comovido pelo recente falecimento de Zagallo,
enveredou para um certo ufanismo, ao pedir que a torcida resgate sua relação com a seleção brasileira,
o que é compreensível para quem começa a empreitada, mas é preciso levar em consideração que esta relação historicamente depende dos resultados e,
portanto, está sujeita a atribulações afetivas.
Mais importante que isso, não se percebe na própria seleção alguma disposição em reatar este vínculo.
Mesmo que tenha 61 anos, Dorival Júnior pode ser considerado um técnico em ascensão.
O paulista de Araraquara passou por um significativo hiato de títulos e bons trabalhos,
redimido com folga em sua brilhante passagem pelo Flamengo, onde venceu Copa do Brasil e Libertadores, e na jornada no Morumbi,
ao levar o São Paulo ao título da última Copa do Brasil.
O Ceará também é parte importante neste processo, pois foi lá que o técnico começou a retomar fôlego em 2020,
a ponto de fazer brilharem os olhos ávidos da sereia da Gávea.
Conforme os bons trabalhos mostravam resultado, Dorival Júnior passou a ser definido como aquele técnico que “faz o feijão com arroz”,
o que inclusive lhe foi questionado na apresentação pela CBF.
É uma definição injusta, pobre e reducionista.
No Flamengo, por exemplo, que dispõe do melhor elenco da América do Sul,
o trabalho de Dorival foi o que mais se aproximou do esquadrão montado por Jorge Jesus.
Entre o português e o araraquarense, vários técnicos supostamente com maior grife naufragaram na tentativa de fazer
os rubro-negros terem desempenho satisfatório e resultados condizentes com sua folha salarial.
Sem se alterar ou mostrar desconforto, Dorival Junior respondeu que seu feijão com arroz tem “tempero de todo o Brasil”.
De fato, não falta requinte ao seu prato feito, se consideramos que colocou em prática, tanto no Flamengo quanto no São Paulo,
encaixes perfeitamente funcionais e produtivos, sempre na tentativa de favorecer o desempenho coletivo.
O rótulo simplista que lhe foi colocado talvez seja consequência da falta de certo verniz modernoso y vanguardista,
que atualmente funciona como credencial.
Na quinta-feira, o técnico não falou sobre isso explicitamente, mas indicou nas entrelinhas ao afirmar que não se importa tanto com a descrição de esquemas táticos,
mas sim em atacar e defender com o maior número de jogadores possível.
De caráter afável e cordial, sinceramente emocionado com a oportunidade de uma vida,
vendo seu feijão com arroz recebendo cinco estrelas no guia Michelin do futebol,
o rejuvenescido Dorival Júnior é um técnico honesto também conceitualmente.
O orégano, a pimenta e a salsinha vêm depois.