A mulher agredida pelo médico Daniel Sadigursky no bairro do Itaigara, região nobre de Salvador, relatou à polícia que ele já havia cometido violência doméstica contra ela anteriormente.
O investigado foi preso em flagrante na madrugada de sábado (4), depois que vizinhos chamaram a Polícia Militar.
No documento da audiência de custódia do médico, em que ele foi liberado após pagamento de fiança, a Justiça e a polícia informaram que existem provas de que Daniel agrediu a companheira. No entanto, em nota divulgada nesta terça-feira (7), a defesa do investigado acusações são “completamente inverídicas”.
Confira a nota na íntegra abaixo.
Em depoimento a vítima contou que tinha um relacionamento com Daniel Sadigursky há 11 anos, e que moravam juntos há três. O g1 esteve em contato com a mulher, porém, muito abalada, ela preferiu não falar sobre o assunto.
Nesta terça, os advogados da vítima procuraram a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), para tomar novas medidas. Um deles, Vladimir Oliveira, falou sobre o estado da mulher.
“Ela está extremamente abalada, é um ciclo de violência. Não foi a primeira agressão, foram várias agressões nesse período de 11 anos e, neste final de semana, [a agressão] foi tamanha que houve a intervenção dos vizinhos. Eles ouviram a gritaria, acionaram a polícia, e ela acabou tendo que vir aqui [na Deam]. É uma situação realmente complicada”, pontuou ele.
O g1 teve acesso aos documentos do caso. No depoimento, a vítima relatou que já havia prestado queixa contra Daniel anteriormente, mas que não deu prosseguimento no processo porque acabou reatando com ele. Ela também forneceu à polícia fotos dessas agressões anteriores.
Nas imagens, a mulher aparece com vários machucados, principalmente nos olhos e na boca, e um corte em um dos braços. Também no depoimento ela relatou que antes de ser agredida, ela e Daniel saíram para jantar em um shopping de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador.
O casal iniciou uma discussão no caminho de volta, porque Daniel disse que iria dormir em outro apartamento, que não o que o casal morava. A vítima então disse que iria resolver a vida dela e, durante a briga, o investigado deu um tapa no rosto da mulher.
Ainda no depoimento, a vítima contou que sempre que o médico consome bebida alcoólica, ele fica agressivo. Antes de retornarem para casa, os dois pararam o veículo em um posto de gasolina. Não há detalhes, no depoimento, sobre quem dirigia o carro.
Daniel então desceu do carro e a mulher foi atrás, pedindo para que ele voltasse, para que os dois fossem juntos para casa. Os dois então voltaram a brigar, e a vítima relatou que foi agredida novamente com outro tapa. Depois disso, ela resolveu ir para casa sozinha.
Ao chegar na residência, Daniel chegou logo em seguida em um táxi. Também segundo a vítima, ele estava bastante alterado e queria sair de casa, mas como ele estava embriagado, a mulher não deixou. Neste momento, ele passou a “quebrar várias coisas dentro de casa”.
Uma perícia foi solicitada para o apartamento, mas o laudo ainda não foi emitido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). Após destruir objetos no imóvel, o médico então voltou a agredir a companheira com murros e chutes no braço, rosto, boca e cabeça.
Em fotos anexadas ao processo, a vítima aparece com vários hematomas no braço. Também à polícia, ela disse que foi muito agredida na região da cabeça, e que Daniel age desta forma porque é medico e sabe que nesse local não fica marcas.
A mulher também relatou que era manipulada emocionalmente pelo médico e que “virou rotineiro ser agredida moralmente e fisicamente”. Ainda no documento, a vítima contou que eles sempre faziam as pazes depois e que ela perdia a “coragem de colocar um ponto final nesse relacionamento abusivo”.
Pedido de prisão preventiva e medidas cautelares
Depois da prisão do médico em flagrante, Daniel foi autuado por agressão dolosa no âmbito de violência doméstica. A delegada da Deam, Bianca Torres, fixou a fiança do médico em R$ 60 mil. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) chegou a pedir que a prisão dele fosse convertida para preventiva.
A defesa do suspeito recorreu à decisão e o pedido foi atendido pela juíza Ivana Carvalho. No documento, a magistrada informou que apesar das provas de que Daniel cometeu o crime, “não há razão para a manutenção do cárcere”, por isso ele foi posto em liberdade provisória.
A juíza fixou medidas cautelares contra o médico, entre elas uma fiança de R$2.200, a proibição de saída de casa entre 22h e 6h, de manter contato com a vítima, familiares dela, e também a proibição do consumo de bebida alcoólica e do uso de armas.
Além disso, ele está impedido de se aproximar dela, em uma distância mínima de 500 metros. Caso Daniel descumpra qualquer uma das medidas protetivas, ele terá prisão preventiva decretada imediatamente.
Veja todas as 11 medidas cautelares fixadas pela Justiça abaixo:
- Comparecimento a todos os atos processuais;
- Comparecimento bimestral até o 10º dia no juízo, para onde for distribuída a ação;
- Comunicação de viagem ou ausência superior a 20 dias ao juízo da instrução;
- Recolhimento em seu domicílio no período noturno, entre as 22h e 6h da manhã;
- Não utilização de armas;
- Não utilização de bebida alcoólica;
- Proibição da aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância de 500 metros entre estes e o agressor;
- Proibição de manter contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
- Proibição de frequentar local de trabalho, estudo, lazer, clubes, casa de parentes da vítima, a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
- Participar de programas educativos, apresentados pela Vara de Violência Doméstica;
- Arbitro a fiança na quantia de R$ 2.200, que poderá ser recolhido posteriormente no Juízo da instrução, devendo ser liberado, sem condicionamento do recolhimento da fiança.
A outra advogada da vítima, Juliana Sampaio, detalhou que a vítima e o investigado trabalham junto e que novas medidas protetivas serão solicitadas. Ela também informou que a acusação ainda está em busca da prisão preventiva de Daniel.
“Pedi uma medida protetiva, para que reloque os horários de trabalho dele, para que o trabalho dela não seja afetado, já que a prioridade agora é resguardar a saúde mental dela. Ela está muito abalada, sem sair de casa, sendo muito assediada, porque nós sabemos que a mulher é sempre colocada como culpada, ela é revitimizada. Ela está sendo vítima novamente de ataques da sociedade, inclusive de outras mulheres”, ponderou.
“Nesse momento ela está resguardada, esperando que as medidas protetivas possam ser mais eficazes, para ela poder se sentir um pouco mais à vontade, para voltar ao trabalho. A prioridade é essa, é buscar a prisão preventiva dele junto ao Ministério Público, mas se não conseguirmos – porque não depende da gente – vamos tentar medidas protetivas mais eficazes”.
Nota da defesa do médico na íntegra
“O médico ortopedista Daniel Sadigursky, através de sua assessoria jurídica vem a público manifestar a prestar esclarecimentos as notícias publicadas por parte da imprensa acerca de “supostas agressões a sua companheira”. Tratam-se de acusações completamente inverídicas e serão oportunamente esclarecidas em juízo sob o crivo dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. No entanto, se vê que em algumas matérias jornalísticas há uma tentativa de tentar desqualificar a conduta do médico, que nunca serão capazes de desqualifica-lo perante seus pacientes, amigos e familiares. Insta asseverar que os fatos não abalam sua moral e nem seu aspecto psicológico diante de notícias precipitadas e em discordância com a realidade fática. Reitera sua total confiança na Justiça”.