Racismo relatado por pais e alunos
Desde o início do ano, a filha de Michael de Jesus, de 4 anos, estuda em uma escola particular de Guarujá. Ela relatou que os colegas não a chamavam para brincar. Inicialmente, os pais pensaram que era uma dificuldade de adaptação.
Após algumas semanas, a menina, que é negra, revelou que os colegas faziam piadas sobre seu cabelo crespo. Seus pais informaram à professora, que prometeu dar atenção ao caso.
A situação piorou. A menina, que sempre gostou de ir à escola, começou a chorar antes das aulas e relatou que os colegas não queriam brincar com ela devido à cor de sua pele. “Demorei a acreditar que minha filha estava sofrendo racismo. São crianças de 4 anos. Ela foi excluída por meses, e a escola não deu a devida atenção, tratando a situação como um conflito comum”, afirma Michael.
Pesquisa revela discriminação nas escolas
O caso de racismo enfrentado pela filha de Michael não é isolado. Uma pesquisa da Equidade.Info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, mostrou que 54% dos professores de educação básica reconheceram casos de discriminação racial entre estudantes.
O levantamento, realizado entre abril e maio em 160 escolas públicas e particulares de todo o país, entrevistou 2.889 alunos, 373 professores e 222 gestores. O estudo foi realizado em parceria com as fundações Itaú e Lemann.
Os dados revelam uma diferença de percepção entre professores brancos e negros. Entre os docentes brancos, 48% relataram ter presenciado casos de discriminação racial, enquanto entre os negros, esse número foi de 56%.
Entre os alunos, 8% dos brancos disseram que os colegas negros não são respeitados em relação ao fenótipo. Já entre os estudantes negros, essa percepção chegou a 13%.
A importância da representatividade na educação
“Os dados mostram que as vítimas de racismo, em sua maioria, têm uma percepção diferente da dos gestores, que em sua maioria são brancos e ocupam cargos de liderança nas escolas”, explica Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú.
A pesquisa também apontou que 21% dos professores brancos afirmam não saber como agir em casos de racismo escolar. Entre os professores negros, esse número cai para 9%.
“Professores brancos nem sempre têm a mesma sensibilidade para questões raciais. Por isso, a representatividade é essencial dentro das escolas”, destaca Macana.
Desafios no combate ao racismo escolar
Dos gestores entrevistados, 60,9% afirmaram que suas escolas promovem formações sobre letramento racial com os professores. Além disso, 59,5% relataram contar com o apoio das secretarias de educação para implementar ações de educação antirracista.
“As escolas reconhecem a dificuldade em lidar com casos de racismo. Mesmo com uma lei vigente há mais de 20 anos que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira, sua implementação ainda é falha”, conclui Macana.
Ela reforça que o racismo não deve ser tratado como bullying. “Independentemente da idade, o racismo precisa ser combatido desde cedo.”
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