Com craques recém-contratados, campeonato nacional começa nesta sexta-feira (11) e terá transmissão para o Brasil
A Arábia Saudita está canalizando grandes somas de dinheiro no futebol como parte de sua ambiciosa “Visão 2030”, um projeto governamental que visa diversificar a economia do país e melhorar sua imagem internacional. A atual janela de transferências da liga saudita movimentou mais de 188 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão) em contratações, sinalizando um compromisso com a expansão dos esportes e do entretenimento.
A “Visão 2030” e a Transformação da Arábia Saudita
A “Visão 2030” é liderada pelo príncipe Mohammed bin Salman e abrange uma série de objetivos, incluindo a diversificação da economia, aumento da participação do setor privado, redução do desemprego, maior envolvimento das mulheres no mercado de trabalho e redução da dependência do petróleo. Além disso, o plano visa aumentar o consumo interno, incentivando os sauditas a gastar dinheiro no país, em vez de no exterior.
Marcos Motta, sócio da Bichara e Motta Advogados, que representa a liga saudita no Brasil, destaca a importância do investimento no futebol como parte da implementação da “Visão 2030”. Segundo ele, as contratações no futebol fazem parte de um projeto mais amplo que começa com a reestruturação dos clubes de futebol.
Financiamento Estatal dos Clubes de Futebol
Ao contrário do Brasil, onde os clubes obtêm receitas de várias fontes, na Arábia Saudita, a principal e, às vezes, única fonte de renda dos clubes é o financiamento do governo. O Fundo de Investimento Público (PIF), o principal fundo soberano do país, distribui esse financiamento por meio do Ministério do Esporte.
Embora dirigentes de clubes e empresários também invistam, eles dependem fortemente do financiamento do PIF e têm conexões com o regime saudita. Como resultado, a liga saudita é marcada por desigualdades financeiras.
Ampliação dos Investimentos do PIF
O PIF, inicialmente financiado pelo petróleo, tem sido ampliado sob o governo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Além de investir no futebol, o portfólio do PIF inclui empresas de diversas áreas, como infraestrutura, energia e farmacêuticas.
Desde junho de 2022, o PIF assumiu o controle de quatro dos maiores clubes da liga local. No entanto, a lógica de como a renda é distribuída entre esses clubes ainda não é totalmente clara, uma vez que os detalhes precisos dos investimentos não são divulgados publicamente.
Privatização ou Estatização?
Embora o governo tenha anunciado o controle do PIF sobre os clubes como uma forma de privatização, na prática, isso não é exatamente o que ocorre. De acordo com José Antonio Lima, doutor em Relações Internacionais, o governo alega que o PIF não faz parte do Estado, mas na realidade, é o governo que lidera o projeto e controla os clubes, tornando a distinção entre fundo soberano e a monarquia saudita pouco clara.
A Arábia Saudita continua a investir pesadamente no futebol como parte de sua “Visão 2030” e de seus esforços para diversificar sua economia e melhorar sua posição no cenário internacional.
O real motivo dos investimentos
O termo “sportswashing” foi criado para descrever o comportamento de regimes autoritários que fazem investimentos em esportes para melhorar a imagem pública e mascarar os abusos cometidos.
José Antonio Lima, no entanto, acredita que isso seja um elemento presente nesse processo, mas não o motivo final, que envolve algo muito maior do que apenas “maquiar” problemas.
“Evidente que o príncipe herdeiro quer que, quando as pessoas falem de Arábia Saudita, falem do Cristiano Ronaldo, não das arbitrariedades. Na minha análise, porém, esse não é o motivo principal, ainda que exista. Tenho dificuldade em ver a necessidade de limpar a imagem. O regime saudita mantém até hoje um conflito armado no Iêmen que provocou centenas de milhares de mortos e não abalou em nada a relação com os Estados Unidos, por exemplo”, conta.
Os investimentos ajudam a manter a segurança do regime ditatorial e demonstrar poder e atratividade econômica para o mundo.
Existem várias razões para utilizar o futebol nessa estratégia, que envolve tanto o público nacional quanto economias internacionais.
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