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Bastidores da Escolha do Novo Líder do Hamas

Foto Adel Hana/AP
 

Reunião em Doha para Escolher Novo Líder

Na última semana, sob os olhares da mídia mundial, os principais líderes do Hamas se reuniram no Qatar para escolher um novo líder político. Delegados de todo o Oriente Médio chegaram após quase um ano de conflitos entre Hamas e Israel em Gaza. Alguns chegaram abalados, tendo recebido a notícia de que Ismail Haniyeh, o líder político anterior, havia sido morto em uma explosão em Teerã, supostamente por Israel.

Papel Crucial de Ismail Haniyeh

Haniyeh supervisionava as negociações do grupo com Israel e desempenhou um papel crucial no Hamas. Ele equilibrava o desejo da ala militante de lutar contra Israel com os apelos para alcançar um acordo e encerrar o conflito. Sua posição precisava ser preenchida rapidamente.

Cerimônia de Luto em Doha

Na cerimônia de luto em Doha, os líderes do Hamas alinharam-se lado a lado em uma enorme tenda branca com tapetes e cadeiras luxuosas, decoradas com fotos de Ismail Haniyeh. Centenas de pessoas se reuniram para prestar homenagens ao falecido líder e seu guarda-costas. A cena sinalizou o fim de uma era e o início de uma nova fase, mais extrema.

Reuniões e Discussões

Não foi a primeira vez que altos funcionários do Hamas se reuniram após um funeral inesperado. Em 2004, testemunhei uma reunião após Israel assassinar o fundador do grupo, Sheikh Ahmed Yassin. Menos de um mês depois, Israel matou seu sucessor, Abdel Aziz al-Rantisi. Mas desta vez, as discussões nos bastidores refletiram a crise e os desafios enfrentados.

Impactos do Ataque de 7 de Outubro

O Hamas atacou o sul de Israel em 7 de outubro do ano passado, matando cerca de 1.200 pessoas e levando 251 reféns de volta a Gaza. Desde então, a retaliação militar de Israel matou mais de 39.600 pessoas, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. A maioria dos edifícios em Gaza foi danificada ou destruída e quase toda a população foi deslocada. A dissidência contra o Hamas, que governa Gaza desde 2007, tem crescido. O grupo sofreu grandes perdas.

Assassinato de Ismail Haniyeh

Além disso, o assassinato de Ismail Haniyeh em 31 de julho em Teerã, um lugar que ele considerava um refúgio seguro, foi um choque para a organização. O Hamas acredita que Haniyeh foi morto por um míssil antipessoal enquanto navegava em seu telefone. A Guarda Revolucionária do Irã afirmou que um projétil com uma ogiva de 7kg foi utilizado. Alguns relatos da mídia ocidental dizem que ele foi morto por uma bomba plantada no quarto anteriormente.

Novo Líder Yahya Sinwar

Na cerimônia de luto de Haniyeh em Doha, um homem de cabelos brancos e barba curta se destacava. “Preste atenção nele”, disse-me um oficial de mídia do Hamas. Ele é Abu Omar Hassan, chefe do Conselho Supremo da Shura, o principal órgão consultivo do Hamas. De acordo com a constituição do Hamas, ele estava em posição privilegiada para ser o chefe interino da organização até as eleições de março. “Ele é o homem das grandes missões”, me disseram.

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Processo de Escolha

Após a cerimônia de luto, os líderes realizaram reuniões em Doha para eleger um novo líder. Eles escolheram Yahya Sinwar, líder do grupo dentro de Gaza desde 2017. A escolha pode surpreender muitos, mas quem acompanhou sua carreira desde sua libertação no acordo de troca de 2011 com Israel sabia que ele sempre teve grande probabilidade de liderar o Hamas. Sinwar tem uma ligação próxima com a ala armada do grupo. Seu irmão Mohammed lidera o maior batalhão militar do Hamas, enquanto Mohammed Deif, que liderou a ala armada por duas décadas até ser supostamente morto por Israel, era seu vizinho e amigo.

Desafios e Divergências Internas

Apesar de tudo, muitos veem sua nomeação como loucura. As agências de segurança de Israel acreditam que Sinwar planejou e executou o ataque ao sul de Israel, e ele está no topo da lista de procurados. “Nem todos dentro da liderança do Hamas foram a favor da decisão”, disse-me um alto funcionário do Hamas. “Alguns líderes levantaram suas preocupações, outros pressionaram por uma pessoa mais moderada. Mas, no final, ele conseguiu a maioria dos votos.”

Reações e Popularidade

Outro oficial do Hamas afirmou que o movimento se sentiu incapaz de escolher Abu Omar Hassan devido à sua pouca visibilidade pública. A notoriedade global de Yahya Sinwar após o ataque de 7 de outubro foi um fator decisivo. “Sinwar se tornou uma marca após 7 de outubro e ele tem grande popularidade no mundo árabe e islâmico”, disse o oficial. “Ele desfruta de relações próximas com o eixo da resistência apoiado pelo Irã, e sua nomeação envia uma mensagem de desafio a Israel.” O “eixo da resistência” é uma rede de grupos armados apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah no Líbano.

Pressão Internacional

Muitos oficiais árabes e ocidentais instaram o Hamas a não nomear Sinwar devido à sua conexão com os ataques de 7 de outubro. Ele e a organização que agora lidera são classificados como terroristas por muitos governos no Ocidente. “Uma das razões pelas quais votamos nele é porque queremos honrá-lo por idealizar os ataques”, disse o oficial. “O 7 de outubro pertence a ele, então ele merece liderar o movimento.”

Negociações de Cessar-Fogo

Dez meses após o ataque, todas as tentativas de concordar com um cessar-fogo falharam. Qatar e Egito estão trabalhando em uma nova proposta de cessar-fogo. Vazamentos sugerem que o plano é convencer o Irã a não responder militarmente ao assassinato de Haniyeh em troca de Israel encerrar a guerra em Gaza e retirar tropas do corredor da Filadélfia.

Desafios Futuros

O Corredor da Filadélfia é uma zona de amortecimento ao longo da fronteira de 13 km com o Egito. Um oficial palestino familiarizado com as negociações de cessar-fogo afirmou: “A inteligência egípcia já enviou uma equipe para Doha e há reuniões para formular um plano de ação visando poupar a região de uma possível resposta iraniana em troca de um cessar-fogo.” Por enquanto, o som da guerra só está ficando mais alto, com Sinwar, a figura mais extremista do Hamas, pronto para liderar o grupo pelos próximos cinco anos – se ele sobreviver à guerra.

 

 

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