Vácuo de Poder no Irã Após a Morte de Ebrahim Raisi em Queda de Helicóptero
A morte súbita do presidente Ebrahim Raisi deixou uma série de questões sem resposta, mas uma coisa é clara: a linha dura no Irã não cederá facilmente o poder. Kim Sengupta escreve sobre o impacto desta perda para o futuro do país.
Impacto da Morte de Raisi
A morte inesperada de Raisi cria um vazio no topo da hierarquia política e teocrática do Irã, que enfrenta tempos turbulentos tanto interna quanto externamente. Raisi, um presidente linha-dura, tinha o apoio dos pilares da República Islâmica, incluindo o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) e o clero conservador. Ele era visto como provável sucessor do envelhecido e doente líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei.
Circunstâncias do Acidente
Com o início da formação de uma nova liderança, surgem perguntas sobre as circunstâncias da queda do helicóptero ao norte de Tabriz, que matou Raisi e o ministro das Relações Exteriores Hossein Amir-Abdollahian. Amir-Abdollahian tinha um perfil internacional crescente, especialmente ao se manifestar sobre o conflito entre Israel e Gaza. Alinhado com o IRGC, ele era próximo do ex-comandante Qasem Soleimani, morto em um ataque de drone americano em 2020.
Perguntas Sem Respostas
Há muitas perguntas sem resposta sobre o acidente. Por que os dois políticos mais importantes estavam no mesmo helicóptero? Como os outros dois helicópteros da mesma comitiva conseguiram pousar em segurança? Por que houve um longo atraso no anúncio das mortes, quando a notícia já circulava entre oficiais em Teerã por horas?
Khamenei descreveu o ocorrido como “um acidente infeliz”, mas rapidamente surgiram alegações de sabotagem em uma região acostumada à violência e intriga. Israel, que já realizou assassinatos de cientistas do programa nuclear iraniano e comandantes militares dentro do país, é o suspeito usual. Oficiais israelenses negaram qualquer envolvimento, mas as acusações devem continuar em um momento tenso.
Relações com Israel e Azerbaijão
O acidente ocorreu após Raisi inaugurar a abertura de duas represas na fronteira com o Azerbaijão, ao lado do presidente azeri Ilham Aliyev. Israel é um aliado e fornecedor de armas do Azerbaijão, o que alarmou Teerã sobre uma possível presença israelense em suas proximidades.
Expectativas Internacionais
Alguns em Israel esperam que as mortes levem a uma luta interna pelo poder no Irã, distraindo o país de apoiar adversários do estado judeu. No entanto, é altamente improvável que haja mudanças significativas na política iraniana, tanto externa quanto internamente.
Liderança Interina
De acordo com a constituição, o primeiro vice-presidente Mohammad Mokhber assumirá como líder interino, com uma equipe de conselheiros civis e religiosos, e eleições serão realizadas dentro de 50 dias. Mokhber, próximo a Khamenei, é conservador em questões como direitos das mulheres e defende uma postura firme contra Israel.
Futuro das Eleições
Haverá mudança nas próximas eleições? Nas últimas eleições, muitos jovens se recusaram a votar, desiludidos pela falta de mudanças sob o reformista Hassan Rouhani. O acordo nuclear (JCPOA) de Rouhani não trouxe os benefícios esperados após Donald Trump retirar os EUA do pacto e reimpor sanções. Aqueles que boicotaram as urnas expressaram arrependimento, pois o novo governo reacionário impôs leis sociais rígidas e reprimiu protestos.
Candidatos e Oposição
Os eleitores que se abstiveram em 2021 podem votar desta vez por um reformista, mas os candidatos da oposição ainda são incertos. Todos os candidatos são vetados pelo Conselho Guardião, que barrou figuras como Eshaq Jahangari e Ali Larijani nas últimas eleições. Recentemente, o Conselho desqualificou Hassan Rouhani de defender seu assento na Assembleia de Especialistas, decisão vista como uma tentativa de Raisi de garantir seu caminho como sucessor de Khamenei.
Desafios para a República Islâmica
Rouhani publicou uma carta aberta de protesto, uma rara ocorrência no Irã, acusando o Conselho Guardião de marginalizar reformistas e fortalecer o poder dos conservadores. Ele também mencionou relatos de que Mojtaba Khamenei, filho do líder supremo, poderia ser um candidato à sucessão, o que poderia causar problemas para a República Islâmica, que critica os estados hereditários sunitas na região.
Conclusão
Mojtaba, embora sem a senioridade teológica necessária, tem credenciais para defender os valores conservadores e agir contra a dissidência, tendo supostamente assumido a milícia Basij que reprimiu protestos após a eleição de 2009.
O futuro do Irã terá grande impacto no país e além. Parece improvável que a linha dura ceda o poder voluntariamente, e a confrontação com adversários, especialmente Israel e os EUA, deve continuar.