O número de vítimas após o terremoto mais devastador na história moderna do Marrocos continua a aumentar, atingindo um trágico total de 2.862 mortos, conforme relatado nesta segunda-feira, 11 de setembro.
Este desastre natural catastrófico chocou não apenas o país, mas também o mundo, revelando a vulnerabilidade das construções típicas da região e agravando ainda mais as consequências do tremor.
A jornada em direção às áreas mais afetadas começou cedo, quando a equipe de reportagem partiu de Marraquexe em direção à região epicentral do terremoto. O destino era Amizmiz, uma cidade situada aos pés da cordilheira do Atlas, que separa o Mar Mediterrâneo do Atlântico do vasto deserto do Saara. É uma localização que se mostrou particularmente vulnerável aos abalos sísmicos.
Ao longo do caminho, a equipe de reportagem testemunhou cenas de solidariedade impressionantes. Um grupo de cerca de dez motociclistas, transportando ferramentas simples para auxiliar nas operações de busca e resgate, destacou-se como um exemplo brilhante de comunidades locais unidas em tempos de crise.
Um raio de esperança surgiu quando a equipe se encontrou com militares espanhóis que estavam trabalhando incansavelmente na busca por sobreviventes. Eles compartilharam uma mensagem de determinação: “Não temos um limite de tempo. Devemos entender que a busca é contínua, porque a esperança nunca deve ser perdida”, disse um dos militares. Essa esperança é a luz no fim do túnel para as vítimas e suas famílias que continuam enfrentando as incertezas e os perigos das réplicas sísmicas.
À medida que a equipe se aproximava da área mais afetada, deparou-se com os primeiros acampamentos improvisados onde os moradores não podiam retornar às suas casas destruídas. Crianças, como Maruá, de 13 anos, compartilharam seus traumas e medos: “Estou em choque e com medo porque ainda tem muitas réplicas”, disse ela. A incerteza paira sobre essas pessoas que perderam suas casas e, em alguns casos, entes queridos.
O governo está enfrentando o desafio de determinar o número exato de pessoas que estão vivendo em condições precárias. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 300 mil marroquinos tenham sido afetados pelo terremoto, demonstrando a magnitude do desastre e suas ramificações humanitárias.
As filas para receber doações refletem a urgência da situação, com colchões sendo distribuídos para tornar as noites menos desconfortáveis para aqueles que perderam tudo. As pessoas de Amizmiz, que era uma cidade com cerca de 20 mil habitantes, agora vivem em meio a ruínas, onde praticamente todas as casas carregam vestígios do terremoto, muitas delas completamente destruídas.
A situação é tão precária que as autoridades proibiram os moradores de retornarem às suas casas, permitindo apenas visitas rápidas para recuperar pertences essenciais. Nesse contexto desafiador, a equipe de reportagem conseguiu encontrar Michele Teixeira, uma brasileira que vivia em Amizmiz com seu marido, Jamel Ait Lachegar, há duas décadas. Michele trabalhava como guia de turismo em uma região conhecida por sua beleza natural e cultura rica.
No entanto, a jornada de casa de Michele e Jamel se transformou em uma jornada de dor, com vizinhos e amigos perdendo a vida sob os escombros. Michele compartilhou seu lamento, destacando a tristeza e o desespero que ela e muitos outros sentem diante da tragédia. A incerteza sobre o destino das pessoas que não conseguiram se salvar é uma dor insuportável.
À medida que a equipe de reportagem passou por dezenas de construções destruídas em Amizmiz, ficou claro que mesmo as casas que não desabaram apresentavam rachaduras graves, muitas delas em risco iminente de colapso. O cenário era tão perigoso que não puderam entrar na casa de Michele e Jamel. No entanto, as imagens capturadas após o terremoto testemunham a devastação que se abateu sobre essa comunidade outrora tranquila.
Em meio à destruição e à tristeza, o espírito de solidariedade e esperança persiste. O povo de Amizmiz e todas as pessoas afetadas pelo terremoto enfrentam um longo caminho para a recuperação. Mas, como destacou o militar espanhol, a busca por sobreviventes é contínua, e a esperança é uma força inabalável que nos impulsiona a superar os desafios mais difíceis.
“O terremoto não sacudia só. Ele pulava e depois ia para frente, ia para frente e voltava”, conta a brasileira.
Os filhos estão traumatizados.
“O de 11 anos está psicologicamente abalado. Ele vê o copo com água em cima da mesa tremer, ele já grita: ‘Está acontecendo de novo, está acontecendo de novo’. Se ele cochila, ele já acorda com medo: “Onde está meu pai, onde está minha mãe?’. Eles estão completamente abalados”, conta Michele.
Como acham que vai ser daqui para frente?
“Vai ser muito difícil para as pessoas voltarem para a vida normal deles, planejar, pensar. Não tem pensamento para o futuro”, diz Jamel Ait Lachegar.
“Cada detalhe aqui foi feito colocado, teve um preço, teve um sentimento e acabou. Agora é a gente olhar para frente e fazer de novo. E ter a esperança, a fé de que vai ser melhor do que era”, afirma Michele.
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