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Por direito de mulheres, grupo ocupa praça do Hospital Pérola Byington e impede vigília contra aborto de extremistas religiosos
Por direito de mulheres, grupo ocupa praça do Hospital Pérola Byington e impede vigília contra aborto de extremistas religiosos

Noticia

Por direito de mulheres, grupo ocupa praça do Hospital Pérola Byington e impede vigília contra aborto de extremistas religiosos

 

A praça em frente ao Hospital Pérola Byington, no Bexiga, região central da capital paulista, foi palco na manhã desta quarta-feira (22) de uma discussão entre um grupo a favor dos direitos das mulheres e outro que é contrário ao aborto mesmo nos casos previstos por lei

O local escolhido pelos dois movimentos é estratégico. O Pérola Byington é um centro público de referência no atendimento a mulheres vítimas de violência e lá são realizados abortos nos três casos previstos pela lei brasileira: estupro, gestação de fetos anencéfalos ou gravidez com risco de morte para a mãe

De um lado, estavam moradores do bairro que iniciaram, por volta de 7h, a ocupação batizada de “Primavera da Solidariedade”, com o objetivo de ajudar a população de rua local e também impedir o outro grupo de ocupar a praça. Eles obtiveram uma autorização da Sub-prefeitura da Sé para ocupar o local por 40 dias e manter por lá atividades, como aulas de yoga e xadrez, exposição de arte e fornecimento de refeições

Do outro, estava um grupo de extremistas religiosos que planejavam ocupar a praça com o evento “40 dias pela vida”, uma espécie de vigília para rezar contra o aborto. De origem texana, nos EUA, a campanha é uma alusão ao tempo em que Jesus Cristo ficou no deserto em jejum e oração e sob tentações. De acordo com o site oficial da campanha, o movimento já aconteceu em 63 países com a ajuda de voluntários.

Esta seria a segunda vez que o grupo religioso ocuparia a praça para rezar contra o aborto. Em 2019, eles fizeram uma vigília por 40 dias em uma barraca montada na praça. No local, ostentavam imagens de santos, cartazes com fotos de bebês terços, miniaturas de fetos e faixas com dizeres como “rezando pelo fim do aborto”

Na época, uma paciente do hospital que faria um aborto após ser vítima de um estupro coletivo chegou a ser agredida pelo segurança do grupo, que aplicou um golpe conhecido como mata-leão na mulher

Por volta de 9h30 desta quarta, porém, os religiosos chegaram para fazer a vigília “40 dias contra o aborto”, e a praça já estava ocupada pelos moradores do bairro que têm autorização da sub-prefeitura. Uma ronda policial havia passado mais cedo pelo local e conferido a liberação Como os religiosos não possuem autorização, o grupo de moradores do Bixiga avisou que ocuparia toda a praça e os outros não poderiam ficar. Os religiosos se exaltaram e iniciou-se uma discussão

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Duas mulheres do lado religioso estavam sem máscara e gritavam “abortistas!” Quando uma participante do outro grupo pediu que colocassem a proteção facial uma delas disse que não obedecia ao governador, só a Deus. Uma outra mostrou uma caixa de ivermectina para uma câmera gritando que tinha tomado e sido curada. O remédio é um antiparasitário usado no tratamento de sarna, verme e piolho, e não tem eficácia contra o coronavírus.

O uso da máscara facial é obrigatório em todo o estado de São Paulo desde maio de 2020 como medida para evitar a disseminação da Covid-19. Quem descumprir o decreto estará cometendo infração de medida sanitária e crime de desobediência, que podem acarretar multa de R$ 276 a R$ 276 mil, ou mesmo levar o infrator a pena de um a quatro anos de detenção

Por volta de 12h, o grupo religioso postou nas redes sociais que tinham se mudado de local para fazer a vigília, como mostram as imagens abaixo:

A vereadora Erika Hilton (PSOL) foi a responsável por obter com a prefeitura a autorização para a realização do evento. Ela esteve na Praça Pérola Byington na manhã desta quarta e salientou a importância política da ação, afirmando que embora o outro grupo possa “ocupar todos os espaços”, estão ali numa tentativa de “constranger mulheres”

São mulheres negras, mulheres pobres que não têm condições de ir para fora do país ou de pagar grandes clínicas e morrem em abortos clandestinos. Quando falamos no aborto, estamos falando na vida das mulheres”, afirmou a vereadora.

 

E complementou: “Nós não podemos tolerar nem tratar como natural que grupos religiosos queiram se colocar acima da lei. A lei não está para ser discutida, ela está para ser cumprida, ela precisa ser cumprida. Não pode ser confundida com ideologia, com crença, com opinião. Lei é lei. Então, quando esses grupos ocupam esse território em uma tentativa de intimidação a um direito dessas mulheres, isso é algo gravíssimo, é algo de um extremo desrespeito”

A organizadora da “Primavera da Solidariedade”, a escritora Daniela Abade, diz que soube em junho pela internet que o grupo de extremistas voltaria a ocupar a praça com o mesmo propósito. Ao mesmo tempo, conta que viu a população de rua do bairro aumentar desde o início da pandemia de Covid-19. Foi daí que veio a ideia do evento

“Como eu sabia que da última vez eles não tinham autorização da sub-prefeitura para ocupar, resolvi fazer um evento aqui para ocupar e ao mesmo tempo ajudar essa população cada vez maior que mora na praça. Achava que seria mais simples, mas os religiosos estão mais agressivos e mesmo com a autorização da prefeitura eles não podem fazer um evento antagônico no mesmo local. Agora precisamos sobreviver aqui esses 40 dias e precisamos de doações”, afirma.

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Em 2019, Abade também foi a organizadora da tenda montada no local em contraponto à ocupação dos religiosos

“Quando cheguei aqui em 2019, eles não faziam discernimento de quem era paciente oncológico das demais, chamavam as pessoas de satanistas. Imagina uma mulher que chega aqui com histórico de violência sexual? Eles abordavam e vinham com uma máquina de ultrassom para fazer essas mulheres verem o bebê” afirma

 O Mumbi, o museu da memória do Bixiga, está recebendo doação de roupas e kits de higiene para ajudar os moradores de rua.

Campanha de solidariedade

Por 40 dias a partir desta quarta, o grupo de moradores, formado principalmente por mulheres, estará na praça com atendimento à população de rua, oferecendo café da manhã e almoço todos os dias, além de oficinas e atividades abertas a todos os interessados. A partir de quinta-feira (23) haverá também a exposição “Arte: substantivo feminino”, com obras de 23 artistas mulheres

Pelo menos 60 moradores do bairro e do entorno estão envolvidos no evento entre cozinheiros, instrutores de oficinas e voluntários para receber doações e cuidar das finanças

O evento Primavera da Solidariedade é organizado pela União das Mulheres e conta com o apoio, além da vereadora Erika Hilton (PSOL), dos grupos Bixiga sem Medo, MUMBI, Pão do Povo de Rua, Bixiga sem Fome e Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos.

Fonte: g1

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