Primeira Turma do Supremo inicia nesta semana interrogatório de réus do “núcleo duro” da trama golpista; segurança será reforçada
Nesta semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficará frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante um dos episódios mais aguardados da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado no Brasil. Os interrogatórios dos réus do chamado “núcleo 1”, considerado o coração da suposta trama golpista, começam nesta segunda-feira (9) e podem se estender até a próxima sexta-feira (13).
A expectativa é alta: Bolsonaro será o sexto a depor, depois de nomes como Mauro Cid, Alexandre Ramagem e Augusto Heleno. Todos ficarão posicionados na primeira fileira da sala de sessões da Primeira Turma do STF, em um cenário carregado de simbolismo e tensão política.
Roteiro do julgamento e formato dos interrogatórios
A ordem dos depoimentos obedece ao critério alfabético, com exceção de Mauro Cid, que abre a sequência por ser delator no processo. Ao todo, oito nomes compõem esse grupo:
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Mauro Cid – ex-ajudante de ordens e delator
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Alexandre Ramagem – deputado federal e ex-diretor da Abin
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Almir Garnier – ex-comandante da Marinha
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Anderson Torres – ex-ministro da Justiça
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Augusto Heleno – ex-ministro do GSI
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Jair Bolsonaro – ex-presidente da República
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Paulo Sergio Nogueira – ex-ministro da Defesa
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Walter Braga Netto – ex-ministro da Casa Civil (participará por videoconferência, por estar preso)
Durante os depoimentos, os réus serão ouvidos individualmente, sentados ao lado de seus advogados, em uma tribuna montada no centro da sala. As perguntas serão feitas em sequência por:
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Alexandre de Moraes (relator e juiz instrutor do processo)
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Paulo Gonet, procurador-geral da República (PGR)
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Advogados de defesa, respeitando a ordem alfabética
A segurança do STF será reforçada, segundo informou a assessoria da Corte, por se tratar de um evento que reúne figuras públicas de alto escalão e de potencial polarização política.
Crimes em análise no processo
Sete dos oito réus respondem por cinco crimes graves, com penas que somadas podem ultrapassar 30 anos de prisão:
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Tentativa de golpe de Estado
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Organização criminosa armada
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Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
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Dano qualificado
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Deterioração de patrimônio público
A exceção é Alexandre Ramagem, que responde a apenas três crimes, pois a Câmara dos Deputados sustou parte das acusações por ele ser parlamentar. Ainda assim, o STF manteve as denúncias, argumentando que os crimes foram cometidos antes de seu mandato na Câmara, o que invalida a proteção da imunidade parlamentar.
Momento-chave para o futuro político de Bolsonaro
O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro é considerado um ponto crucial para o futuro político e jurídico do ex-mandatário. Se ficar comprovada sua participação ativa na tentativa de subverter a ordem democrática, o ex-presidente poderá não apenas enfrentar pena de prisão, como também ser tornado inelegível de forma definitiva.
A relação de Bolsonaro com Alexandre de Moraes, marcada por trocas públicas de ataques e enfrentamentos institucionais durante seu governo, dá ao encontro desta semana um tom altamente simbólico. Moraes será o primeiro a fazer perguntas diretamente ao ex-presidente.
Este será o primeiro confronto direto entre os dois desde a instauração dos inquéritos relacionados ao 8 de janeiro e ao suposto plano de golpe de Estado, que teria sido gestado dentro do Palácio do Planalto e em reuniões de cúpula com militares da reserva e membros do alto escalão.
Cenário político polarizado e consequências jurídicas
O caso é acompanhado com apreensão tanto por setores da oposição quanto da base governista. Para aliados de Bolsonaro, os interrogatórios são parte de uma perseguição política, enquanto para críticos e especialistas em direito constitucional, o processo representa uma tentativa legítima de defesa da democracia e responsabilização de atos golpistas.
O desfecho pode não apenas impactar o ex-presidente, mas também gerar um efeito cascata sobre outros réus, especialmente militares de alta patente e ex-ministros, como Heleno e Braga Netto, cujas possíveis condenações podem representar uma ruptura com o silêncio das Forças Armadas sobre a crise democrática de 2022–2023.
Com depoimentos que devem ocupar toda a semana, o processo em curso no STF se configura como um divisor de águas na história democrática recente do Brasil. O encontro entre Bolsonaro e Moraes, em uma sala do Supremo, simboliza o choque entre tentativas de ruptura institucional e o peso das instituições democráticas. A semana promete ser tensa, histórica — e decisiva.
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