Na cena doméstica, o governo Luiz Inácio Lula da Silva projetou nesta sexta-feira que fechará 2024 com déficit primário de 9,3 bilhões de reais, dentro da margem de tolerância estabelecida pelo arcabouço fiscal
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subiu frente ao real nesta sexta-feira, em linha com movimento externo, depois que sinalizações mais brandas de bancos centrais de países europeus tornaram a moeda norte-americana comparativamente mais atraente, com as atenções se voltando aos próximos dados de atividade e inflação dos Estados Unidos.
A moeda norte-americana à vista subiu 0,38%, a 4,9986 reais na venda. No entanto, fechou uma semana em que chegou a superar os 5 reais com estabilidade ante a sexta-feira anterior.
O movimento desta sessão ficou em linha com a alta acentuada do índice que compara o dólar a uma cesta de pares fortes, depois que autoridades do Banco Central Europeu (BCE) sinalizaram uma probabilidade cada vez maior de cortes de juros na metade do ano, com inflação em trajetória de queda.
Além disso, um movimento inesperado do banco central suíço de cortar a taxa de juros na quinta-feira reforçou percepção de que as autoridades europeias estão inclinadas a serem mais enfáticas no afrouxamento monetário do que as norte-americanas, o que abriu espaço para ganhos do dólar, disseram participantes do mercado.
O Federal Reserve deixou na quarta-feira sua taxa básica inalterada, e projeções atualizadas do banco central norte-americano mostraram que 10 das 19 autoridades do Fed ainda veem a taxa básica em queda de pelo menos 0,75 ponto percentual até o final deste ano.
No entanto, o chair do Fed, Jerome Powell, já deixou claro que o momento dessas reduções ainda depende de as autoridades se tornarem mais seguras de que a inflação pode continuar a cair em direção à meta de 2% do Fed em uma economia que continua a superar as expectativas.
“Se tiver alguma mudança lá fora, seja atividade mais forte, seja inflação subindo ou se estabilizando por mais tempo nesses patamares altos, então acho que aqui o dólar pode ganhar força”, disse Felipe Garcia, chefe da mesa de operações do C6 Bank.
“O local vai ser um fator menor do que o fator lá fora, e o foco continua sendo, principalmente, esses números de inflação americanos, que vão dizer se o Fed vai ser capaz de, realmente, começar a cortar juros em junho ou se vai ficar mais no segundo semestre, e, eventualmente, se vamos ter menos do que os três cortes que estão prevendo hoje.”
Nesse contexto, Garcia destacou o impulso apenas “pontual” dado ao real pelo desfecho da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desta semana.
O BC anunciou na quarta-feira uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, e encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio. Desde agosto, a orientação era de novos cortes equivalentes nas próximas reuniões, no plural.
Em teoria, quanto mais econômico for o Copom nos cortes de juros, mais o real tende a se mostrar resiliente, já que o diferencial de juros entre Brasil e EUA se estreitaria mais lentamente. Uma maior amplitude de taxas entre os dois países torna o real mais atraente para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimos em mercado de juro baixo e aplicam esse dinheiro em praças mais rentáveis.
Foi por isso que, na véspera, em reação ao Copom, a divisa brasileira teve performance muito superior à de outras moedas emergentes.
Ainda na cena doméstica, o governo Luiz Inácio Lula da Silva projetou nesta sexta-feira que fechará 2024 com déficit primário de 9,3 bilhões de reais, dentro da margem de tolerância estabelecida pelo arcabouço fiscal, apesar de ter feito cortes significativos nas previsões de ganho com medidas arrecadatórias aprovadas pelo Congresso.
Participantes do mercado disseram que não houve impacto relevante dessas projeções no comportamento do câmbio nesta sexta-feira, com a maior influência vindo da cena externa.
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