Para presidente do BC, continuação da incerteza poderia mudar o balanço de riscos e um cenário de piora criaria um estresse global, obrigando a uma mudança no ritmo de flexibilização
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (17) que uma manutenção do cenário de incerteza elevada pode significar uma redução do ritmo de afrouxamento monetário promovido pela autarquia na tentativa de controlar a inflação.
Em evento da XP com investidores em Washington, nos Estados Unidos, Campos Neto mencionou a recente reprecificação de ativos com a deterioração do cenário internacional e percepção sobre riscos fiscais no Brasil, apresentando uma espécie de guia sobre os próximos passos do BC a depender da evolução do cenário.
“Poderia haver uma redução da incerteza, o que significa que seguiríamos o caminho usual. Poderíamos ter um sistema no qual a incerteza continua a ser muito alta e não muda significativamente, o que pode significar uma redução no passo”, afirmou.
“Poderíamos ter um cenário no qual a incerteza começa a afetar mais fortemente variáveis importantes, e aí precisaríamos falar sobre mudar o balanço de riscos. E poderíamos ter cenário no qual a incerteza na verdade se agrava, criando estresse global e, nesse caso, mudaríamos nosso cenário base”, prosseguiu.
Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) encurtou sua orientação futura para os juros básicos em meio a maiores incertezas, afirmando que antevia mais um corte de 0,50 ponto percentual na Selic se confirmado o cenário esperado. Atualmente, a taxa está em 10,75% ao ano, após seis cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual.
Apesar da mudança na orientação, que apontava para dois cortes à frente nas reuniões anteriores, o BC enfatizou na ocasião que seu cenário base não havia se alterado substancialmente. Nesta quarta, Campos Neto disse que é cedo para falar em mudanças estruturais e afirmou ser necessário aguardar a evolução de variáveis até a próxima reunião do Copom, nos dias 7 e 8 de maio.
No evento da XP, ele enfatizou que o BC não terá medo de fazer o que é preciso para alcançar suas metas, ainda que eventuais mudanças na orientação futura da autarquia possam gerar problema de credibilidade.
“Todo ‘guidance’ tem um ‘disclaimer’, o que significa que se a situação mudar substancialmente nós devemos avaliar”, afirmou.
“Toda vez que você tem um ‘guidance’ e precisa mudar é um problema de credibilidade, mas todo ‘guidance’, por você não saber o futuro com certeza, vem com um ‘disclaimer’”.
Câmbio e meta fiscal
No evento, Campos Neto afirmou que o Brasil tem uma taxa de câmbio flutuante e por isso o BC só deve intervir no dólar em casos de disfuncionalidades, acrescentando que a autoridade monetária não reage a reprecificações de prêmio de risco por parte dos mercados.
Após a decisão da equipe econômica sobre a meta fiscal, a curva de juros brasileira passou a precificar na terça-feira 51% de chance de o Copom cortar a taxa básica Selic em apenas 0,25 ponto percentual em maio, e não em 0,50 ponto percentual como vinha sendo precificado.
Sobre o tema, o presidente do BC afirmou que é preciso entender como a recente mudança na meta fiscal para 2025 afetará a função de reação da autoridade monetária.
Campos Neto disse que perdas de credibilidade ou questionamentos sobre a âncora fiscal elevam o custo do lado monetário. Ele reforçou que não há relação mecânica entre o fiscal e o patamar dos juros, mas destacou que maiores prêmios de risco cobrados pelo mercado em meio ao pessimismo podem “dificultar” a condução da política monetária.
“Não é papel do Banco Central dar recomendação sobre o fiscal, o que eu diria é que, em geral, quanto mais transparente você é quando tem que mudar algo, menor o dano que você gera à credibilidade”, disse.
Na apresentação, ele voltou a afirmar que as expectativas para a inflação seguem desancoradas no Brasil e disse que o BC não vai reagir a dados pontuais, como os números recentes mais positivos sobre a evolução dos preços, devendo avaliar a tendência dos dados.
O Brasil tem uma taxa de câmbio flutuante e por isso o Banco Central só deve intervir no dólar em casos de disfuncionalidades, disse nesta quarta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, acrescentando que a autoridade monetária não reage a reprecificações de prêmio de risco por parte dos mercados.
“Pensamos que o câmbio é flutuante, e isso é muito importante, é um absorvedor de choques que tem uma função muito relevante ao nos dizer onde a demanda por proteção está e o porquê”, disse Campos Neto em reunião com investidores em Washington, nos EUA.
“Não reagimos ao fato de que as pessoas estão reprecificando nosso prêmio de risco. Reagir a isso é muito perigoso, porque há muitos jeitos diferentes de se proteger com o prêmio de risco no Brasil. Se você suprime muito um deles, há vazamento para o outro”, acrescentou Campos Neto.
Como exemplo, ele afirmou que, se o BC interferisse muito intensamente no mercado de câmbio em meio a uma elevada demanda por proteção, poderia haver uma compensação no mercado de títulos, com “explosão” na ponta longa da curva de juros.
Seus comentários vieram em resposta a pergunta sobre a possibilidade de intervenção depois que o dólar disparou na véspera pelo quinto pregão consecutivo, atingindo um pico intradiário próximo de 5,29 reais, com alguns agentes financeiros afirmando que isso justificaria atuação do BC.
A autarquia se manteve à margem e não interveio na terça-feira.
Depois de na véspera ter fechado em 5,2686 reais na venda, marcando máxima desde 23 de março de 2023 e acumulando ganho de mais de 5% em cinco sessões, o dólar tinha nesta tarde queda de 0,53%, a 5,2404 reais na venda.
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