Em meio a crescentes críticas e processos sobre o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens, o TikTok anunciou um novo recurso chamado “Meditação nas Horas de Sono”, voltado a reduzir o tempo de tela e estimular hábitos digitais mais saudáveis entre usuários com menos de 18 anos.
A funcionalidade, ativada automaticamente para menores de idade, entra em ação às 22h, substituindo o feed For You por uma tela azul com música relaxante e orientações para uma meditação guiada. A proposta, segundo a empresa, é incentivar os jovens a largarem o celular e se prepararem para dormir.
No entanto, especialistas e usuários adolescentes estão divididos sobre a eficácia da ferramenta.
“A ideia é largar o celular”, diz psiquiatra parceira da plataforma
A psiquiatra infantil Willough Jenkins, contratada pelo TikTok para colaborar com a campanha, explica que o recurso busca ensinar habilidades para a transição ao sono:
“A meditação guiada ajuda a desacelerar o cérebro, especialmente no horário de dormir — uma habilidade fundamental para jovens”, disse Jenkins.
Usuários maiores de 18 anos também podem ativar a função manualmente pelas configurações.
Fricção digital x vício algorítmico
O psiquiatra Yann Poncin, da Universidade Yale, elogia o princípio da ferramenta:
“Ela cria fricção, o que pode ajudar jovens que já reconhecem que têm um problema com o uso excessivo.”
Contudo, ele adverte que o poder do algoritmo do TikTok é fortemente viciante:
“É como se o aplicativo oferecesse rosas para cheirar, mas ainda mantivesse fentanil na outra mão.”
Adolescentes: “Tenho livre arbítrio”
A reação de usuários jovens ao novo recurso foi mista. A estudante Sabina Gilyazova, de 15 anos, chamou a funcionalidade de “irritante”:
“Interrompe meu precioso tempo de celular. Eu simplesmente saio, tenho livre arbítrio.”
Outros jovens também consideraram a medida ineficaz, já que o aplicativo permite ignorar ou adiar os alertas.
Recurso sob críticas de “teatro de responsabilidade”
Para parte dos usuários adultos, o recurso é visto como uma tentativa superficial de resposta às críticas legais e sociais.
A estudante universitária Chioma Chioma-Ozukwe, de 19 anos, classificou a função como “performática”, enquanto a designer de UX Siriveena Nandam, de 26, apontou a contradição do próprio TikTok:
“É irônico que o app tenha recursos que o tornam viciantes, mas depois tenta limitar o uso com ferramentas simbólicas.”
Siriveena chegou a comprar aplicativos de terceiros para tentar controlar o uso, mas afirma que só funcionou quando se afastou fisicamente do celular.
Contexto legal: TikTok na mira da Justiça
O novo recurso chega em um momento sensível para a empresa. Em outubro, 13 estados norte-americanos e o Distrito de Columbia moveram ações judiciais contra o TikTok, alegando que a plataforma conscientemente prejudicou a saúde mental de crianças e adolescentes.
Parte das alegações acusa o app de manter os jovens conectados até altas horas da noite, exatamente o comportamento que o novo recurso pretende combater.
A “Meditação nas Horas de Sono” é a mais recente tentativa do TikTok de demonstrar responsabilidade digital, mas a eficácia da proposta ainda é questionável. Entre intenção e execução, permanece o desafio: como desacelerar o uso compulsivo de uma plataforma que foi projetada para ser viciante?