No último sábado, o Brasil perdeu Silvio Santos, um dos maiores comunicadores da história do país. Senor Abravanel, conhecido por todos como Silvio Santos, foi muito mais que um simples apresentador; ele se tornou uma figura emblemática e polarizadora, capaz de unir e dividir opiniões por onde passava.
Após seu falecimento, o país se viu dividido entre homenagens emocionadas e críticas ferozes. De um lado, Silvio Santos é exaltado como um gênio da comunicação, alguém que revolucionou a televisão brasileira e construiu um império com seu carisma e visão de negócios. Do outro, é acusado de ser uma figura associada à ditadura militar, de explorar pessoas humildes e transformar a necessidade alheia em espetáculo televisivo.
Essa divisão reflete a complexidade de sua figura. Cresci em um ambiente onde minha mãe proibia assistir à TVS (antigo nome do SBT), por acreditar que Silvio Santos se aproveitava dos mais simples, vendendo carnês do Baú da Felicidade em programas infantis. No entanto, na casa de minha avó, que era uma grande fã de Silvio, assistíamos juntos a programas como Show de Calouros, Topa Tudo por Dinheiro e Bozo, onde, de fato, os carnês do Baú eram anunciados para crianças.
A ironia do destino me levou, anos mais tarde, a trabalhar no SBT. Lá, passei três anos e vi de perto o ambiente acolhedor e alegre que a emissora oferecia. Embora não tenha trabalhado diretamente com Silvio Santos, tive a oportunidade de vê-lo algumas vezes. Ele era uma figura solícita e bem-humorada, mas também temperamental. Vi colegas sendo demitidos sem explicação, para serem recontratados na semana seguinte, novamente sem motivo aparente.
Silvio Santos não pode ser definido como herói ou vilão. Ele era uma figura cheia de nuances, um ser humano complexo, que fez tanto o bem quanto o mal, conforme as circunstâncias e perspectivas de quem o observava. Reduzir sua trajetória a uma única narrativa seria ignorar a riqueza de sua vida e o impacto profundo que ele teve na sociedade brasileira.