Caso aconteceu na quinta-feira (18) e, até a manhã desta sexta (19), nenhum envolvido no crime havia sido preso. Além do garoto, um homem também foi atingido no rosto.
“Eu queria que [a morte] me levasse, porque o garoto não merecia ser morto cruelmente do jeito que ele foi. Era um neto excelente. Acho que todas as pessoas queriam um neto daquele. Era muito apegado a mim”.
A fala é de José Santos, avô do garoto Davi Lucas da Silva Santos, que morreu aos 10 anos vítima de bala perdida, enquanto jogava bola com amigos, em Jauá, distrito de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.
O caso aconteceu na quinta-feira (18) e o corpo da criança será sepultado nesta sexta-feira (19). Para José, a perda do neto significa também a perda de um grande amigo. Companheiros, os dois iam junto para a casa que a família tem na roça, como recorda ele com carinho.
“Quando eu ia para a roça, ele acordava 3h da manhã e dizia: ‘Vovô, nós vamos para a roça’. Ele já tinha a botinha dele, para a gente entrar no mato e tudo. Ele dizia: ‘Vovô, quando eu crescer, vou tomar conta disso aqui’. Agora ninguém mais vai tomar conta”.
O carinho entre neto e avô era diário. Sempre ao voltar do trabalho, José passava pela Rua São Francisco, onde Davi Lucas morava e foi morto, para abraçar o garoto.
“Quando eu venho do trabalho, eu passo aqui. Aí quando ele me via passar de carro, ele já vinha correndo para me abraçar. Aí eu ia embora. Eu gostava de brincar com ele, fazia assim: ‘Vovô, você gosta mais de quem? De papai ou de vovô?’. Ele respondia: ‘De vovô’. A gente fica em uma situação que eu não sei”.
José estava em casa quando soube da morte de Davi Lucas. Com a notícia, ele conta que entrou em desespero, e saiu de carro para encontrar o neto.
“Eu estava em casa, cheguei meio com febre, aí tomei um banho e fui deitar. Aí meu menino me disse: ‘Vou falar uma coisa para o senhor, mas não é para o senhor se desesperar, não’. Ele falou isso porque sabe que eu sou muito apegada ao menino. Aí disse: ‘Davi tomou um tiro’. Foi o mesmo que me matar”.
“Eu peguei o carro e fui doido para encontrar ele. Cheguei aqui [na casa do neto] e ele não estava, aí eu fui para a UPA de Arembepe, e a médica chamou a família e deu essa notícia trágica. Aí foi aquele desespero e hoje a gente tem que se conformar, que aconteceu”.
José fez um apelo e pediu mais segurança em Camaçari, para que mais crianças não sejam mortas por balas perdidas, durante o momento de lazer.
“O que eu tenho que falar para todos os pais e todos os avôs, é que a gente tem que vigiar mais, porque se a gente brincar, a criminalidade vai tomar conta do nosso país. Infelizmente a gente tem que falar isso, porque nós não temos segurança. A gente sente falta do policiamento, não temos. Aqui não passa um carro de polícia, até o módulo policial que tinha aqui desativaram. Assim é mais difícil a gente criar nossos filhos e netos com dignidade”.
Mãe desolada e pedido de socorro
A mãe do garoto conversou com a reportagem da TV Bahia nesta sexta. Desolada, Isadora Silva contou que o filho correu para ela e pediu socorro, depois de ser atingido.
“Eu estava fazendo o café. Os outros dois [filhos] estavam no celular, aí eu só ouvi os tiros e falei: ‘Davi’. Eu tentei proteger os outros dois, que são pequenininhos, mandei eles abaixarem. Ele estava brincando aqui e chegou na porta com a mão cheia de sangue, dizendo: ‘Minha mãe, me ajuda’”.
“Eu peguei ele no meu colo, e vi o rosto do meu filho ficando pálido. Eu gritei por socorro, e o pai levou ele para Arembepe, para tentar salvar, dar algum jeito. Quando ele chegou lá, a médica falou que ele ainda estava com vida, falando, ele pediu água. Mas o tiro pegou no peito”.
Isadora contou que o filho era uma criança caseira e não costumava brincar na rua. Há alguns dias ele passou a brincar com outros garotos, incentivado pela família e pelos professores.
“Ele ficava muito dentro de casa, no celular. Aí eu falei para ele ir brincar um pouco, porque os meninos sempre brincavam de tarde, aí ele se enturmou com os meninos e ontem [quinta] me pediu: ‘Minha mãe, posso brincar?’. Eu jamais imaginei que ia acontecer um negócio desses”.
“Eu deixei meu filho ir, e não pude proteger meu filho. Eu não vou mais ver meu filho. Os planos de meu filho, os sonhos, tudo foi jogado no lixo”.
Davi Lucas também era um menino estudioso e sonhava em ser youtuber. Ele postava vídeos na internet, com supervisão da mãe, e tentava superar a timidez.
“Ele tinha sonho de ser alguém. Ele tinha um canal no YouTube, fazia vídeos sempre animado. Estava estudando. Eu fui para a reunião ontem [quinta] e o professor falou sobre ele, disse que ele era muito tímido, que era para ele se enturmar mais, se juntar para fazer as atividades. Ele era quieto”.
Vizinhança triste
Uma das vizinhas da família, que não teve identidade divulgada, também falou sobre os disparos. Além de matar Davi Lucas, os tiros também feriram um homem – identificado pelo prenome Miguel.
“Foi muito triste. Eu moro aqui, estava em casa. Correu eu, meu filho e minha nora. Foram muitos tiros, eles já vieram de lá dando tiros. O outro rapaz está no hospital. Ele saiu gritando, pedindo socorro, para levar ele [ao hospital]. Estava com a boca cheia de sangue. Foi muito feio, horrível. Aqui nunca aconteceu nada disso, é uma rua ótima. E não tem polícia aqui para nada”.
“Os meninos sempre brincaram aqui, e o dela nunca saía de casa. Era um menino que só vivia dentro de casa. Ela ia levar na escola, ia buscar. Fazia pouco tempo que estava enturmado com os meninos”.
Caso
O menino Davi Lucas foi baleado próximo à casa onde morava. Até a manhã desta sexta (19), nenhum envolvido no crime havia sido preso. Os suspeitos do crime ainda não foram identificados. Davi Lucas chegou a ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Arembepe, mas não resistiu aos ferimentos.
Além do garoto, um homem também foi ferido no rosto. Ele, que não teve identidade informada pela polícia, foi socorrido para a mesma unidade, e está internado nesta sexta. O estado de saúde dele também não foi divulgado.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia de Vila de Abrantes. Imagens de câmeras de segurança, da região onde o crime aconteceu, já foram solicitadas para ajudar na identificação dos envolvidos.
O Departamento de Polícia Técnica (DPT) fez a perícia no local. Não há detalhes sobre o sepultamento do garoto.
Fonte: g1
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