O idoso Israel Fernandes de Lira foi internado no dia 26 de dezembro na UPA de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, e morreu no sábado (8).
“Como ele foi em vida, espero que na morte também seja um exemplo. Para que as autoridades ajam, abram vagas e sejam mais humanos com o idoso. Independentemente da sua classe social, de quem seja, da doença que tenha, eu acho que todo mundo é prioridade. Então, eles têm que pensar com carinho humano, pensar mais no próximo verdadeiramente, como dizem, mas na prática não fazem”.
A declaração é da técnica em enfermagem Mirella Tavares de Lira, neta do idoso Israel Fernandes de Lira, que morreu de Influenza após 14 dias à espera de uma vaga de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
H3N2.
Entre o dia 26 de dezembro e o sábado (8), ele esteve internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nova Descoberta, na Zona Norte, onde faleceu
Israel Fernandes de Lira tinha 74 anos. Transplantado de um rim, uma perna amputada e diabético, Israel tinha muitos problemas de saúde, mas não era de se lamentar. No dia 26 de dezembro, foi internado com insuficiência respiratória. O diagnóstico laboratorial foi de Influenza A H3N2.
“Ele foi internado desde o dia 26 de dezembro e, desde esse dia, os médicos informaram que iam solicitar uma vaga de UTI. E a gente aguardou ansiosamente por essa vaga e não tivemos. Não obtivemos sucesso. Ficamos aguardando, aguardando, e não tivemos. Ele ficou internado e era muito difícil ter uma notícia, um médico falar o que realmente estava acontecendo”, afirmou a neta.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), ele foi intubado na quinta-feira (6), depois de uma piora no quadro de saúde. Para a família, houve descaso no tratamento do idoso.
Por meio de nota, a SES disse que a Central de Regulação de Leitos monitorava o caso, mas que, diante da saturação do sistema de saúde pela pandemia de Covid-19 e a epidemia de Influenza A H3N2, está usando o Escore Unificado para Priorização de acesso a leitos de terapia intensiva, para decidir quem tem prioridade para a transferência para um leito.
influenza
“A gente sabe que a demanda ultimamente é muito grande por causa dessa nova influenza, mas isso não significa que as pessoas que têm a responsabilidade tenham que ficar de mãos atadas, que o sistema, a gestão, a administração tenham que ficar de mãos atadas”, declarou a neta do idoso.
A SES informou, ainda, que Israel “recebeu toda a assistência da equipe multiprofissional ao longo do internamento”. Na quarta-feira (5), os parentes do idoso registraram uma notícia de fato no Ministério Público de Pernambuco (MPPE), pedindo que o órgão solicitasse esclarecimentos à SES sobre a demora na abertura de uma vaga.
“Eles [a SES] responderam informando que a gente aguardasse 48 horas para ter essa resposta e tivemos a resposta que, além de muita demanda para pouco leito de UTI, que não tinha, era questão de prioridade. Então, quem era mais prioritário seguiria para a vaga que surgisse de UTI. Meu avô passou esse tempo todo, 13 ou 14 dias, e não foi prioritário”, declarou.
Os dados mais recentes divulgados pelo governo do estado mostram que, na tarde desta segunda-feira (10), havia 393 pedidos de internação de pessoas com sintomas de Covid ou influenza, sendo 163 por UTI e 230 por enfermaria.
Para aliviar a situação, o governo do estado tem reaberto leitos para Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Em um mês, foram 474, sendo 195 de UTI e 279 de enfermaria. A família de Israel, agora, que ninguém precise passar pelo que o idoso passou.
“Os próprios médicos solicitaram essa UTI pelo sistema que é normal, pediram uma senha, e essa senha não teve sucesso. A gente foi no Ministério Público para tentar adiantar ou resolver essa situação de uma vaga de UTI. Era apenas uma vaga para o meu avô, de tantas outras”, disse.
Fonte: g1
Veja Também: Detentos baianos saem para festas e 118 não voltam