Adolescente esfaqueou ex-companheiro da mãe para evitar que Mulher fosse morta, informou o delegado. Caso ocorreu em Blumenau.
Uma mulher de 43 anos foi salva de uma tentativa de feminicídio pela filha de 12 anos em Blumenau, no Vale do Itajaí, na segunda-feira (24). A jovem esfaqueou três vezes o suspeito, que era ex-companheiro da mãe. O ataque ocorreu dentro da casa da vítima e na frente de dois, dos três filhos dela.
“Eu terminei o relacionamento justamente por medo de que ele fizesse algo comigo. Ele falou que me mataria porque me amava muito e não queria me ver com mais ninguém. A gente não acredita, até que acontece. Se não fosse ela, ele teria me matado. Minha filha foi muito corajosa ” disse a mulher.
O exame de corpo delito foi feito na terça-feira (25) e identificou que a vítima teve lesões pelo corpo, como cortes causados por mordidas no braço, perfurações feitas por garfo, machucados causados por socos e a tentativa de estrangulamento.
O delegado Felipe Orsi, responsável pelo caso, informou que para ele houve legítima defesa de terceiros (da filha para proteger a mãe) com o objetivo de evitar o feminicídio. A prisão preventiva do homem foi aceita pela Justiça e ele segue internado em um hospital sob escolta policial. Quando receber alta médica, o suspeito será encaminhado para um presídio.
A vítima e a filha registraram o boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente (DPCAMI). Até então, ela não havia oficializado nenhuma denúncia contra o homem ou solicitado medida protetiva.
Em 2021, segundo balanço da criminalidade de Santa Catarina, 67.270 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência por pessoas que as conheciam. Segundo os dados, esse foi o maior número registrado em três anos
Invasão e agressão
A mulher teve a casa invadida pelo ex-companheiro, de 28 anos, e foi atacada a socos na frente dos filhos, de 12 e 3 anos, três dias depois de terminar o relacionamento e mandar o homem embora. O homem chegou a perfurar a vítima no rosto com um garfo, segundo o depoimento dela.
Ao ver a mãe ferida, a filha mais velha foi até a vizinha e pediu socorro. Quando voltou, ela sendo estrangulada. A adolescente, então, pegou uma faca na cozinha e foi em direção ao suspeito.
“Quando eu vi ela com a faca tive certeza que ele arrancaria da mão dela e nos mataria. Eu só dizia a ele: pelo amor de Deus, olha para mim, olha para mim, para que ele não virasse e notasse minha filha chegando”, relembra.
A adolescente deu três golpes nas costas do homem. Um deles perfurou o pulmão e causou hemorragia. Com as facadas, o suspeito caiu no chão e a mulher conseguiu fugir com os filhos para a casa da vizinha.
O homem ainda tentou ir atrás da vítima, mas não aguentou e parou na rua, onde esperou o socorro chegar. Os dois foram encaminhados para um hospital da cidade.
Relação conturbada
Segundo ela, os filhos, dois adolescentes de 14 e 12 anos e uma criança de três anos, gostavam do padrasto. Contudo, o parceiro não era o mesmo quando ingeria bebida alcoólica.
“Ele foi mudando de comportamento aos poucos. Quando bebia, ficava estúpido e mais ciumento. Chegou a quebrar meu celular e me xingar”, relembra.
Os dois estavam juntos há um ano e moravam na mesma casa.
PM foi acionada antes do ataque
Segundo a mulher, o ex-companheiro bebia em um mercado perto da casa dela momentos antes do crime. A vítima de tentativa de feminicídio disse que ligou para a Polícia Militar com medo que ele pudesse fazer algo contra ela.
Apesar de ter explicado a situação, o policial que a atendeu disse que a viatura seria enviada somente no caso de o homem invadir o terreno dela. E foi o suspeito fez logo.
O setor de comunicação da Polícia Militar de Blumenau disse que uma apuração será feita para avaliar se o procedimento adotado na primeira ligação, antes da invasão à casa da vítima, foi o correto.
Violência contra a mulher em SC
Os números do balanço da criminalidade de Santa Catarina de 2021, divulgados nesta terça-feira (18), mostram que 82% das mulheres vítimas de feminicídio no estado não tinha feito denúncias por violência doméstica.
O levantamento registrou 55 feminicídios em 2021, dois a menos do que em 2020. Contudo, taxa de violência doméstica cresceu em 6,5% em 2021.
Isso significa que 4.834 mulheres a mais foram vítimas ou de ameaça, calúnia, injúria, difamação, estupro, lesão corporal dolosa e vias de fato. Os dados de violência doméstica são registrados desde 2019.
A coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcamis), delegada Patrícia Zimmermann D’Ávila, afirma que é durante a investigação do assassinato de uma mulher por uma pessoa próxima, que muitas vezes se descobre que ela sofria algum tipo de violência.
“O nosso problema é que existe muita subnotificação, por uma série de motivos, por dependência financeira e emocional, por exemplo. Quando as mulheres notificam antes, interrompe o ciclo da violência no início. A violência começa de forma sutil, com censura e descontrole. Mas quando ela denuncia, isso não vira em feminicídio. Sempre que a gente vê um aumento desses caso de violência doméstica, isso significa que haverá menos feminicídios”, explicou a delegada.
O levantamento apontou ainda que 82% dos homens que cometem feminicídio estão vivos. Destes, 11% estão foragidos e o restante foi preso em flagrante.
Difamação e ameaça
Cerca de 53% dos crimes de violência doméstica cometidos no estado foram contra a honra ou ameaças em 2021. Em seguida, ficam os crimes de estupro e vias de fato, ambos com 17,4%. Por último estão os registros de lesão corporal dolosa, com 12% das denúncias.
Fonte: g1
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