Especialista do Instituto Oceanográfico da USP detalha riscos de erosão no litoral paulista
O aumento do nível do mar na região de Barra do Una, em Peruíbe, no litoral de São Paulo, está gerando um processo erosivo que ameaça a integridade da costa, conforme alerta Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
“Essa tendência está ligada à elevação do nível do mar e, em alguns casos, a fatores que intensificam a erosão, como a ocupação costeira, o uso excessivo de recursos hídricos e a falta de cuidado com o fluxo de água que mantém os estuários saudáveis”, explicou Turra em entrevista ao Metrópoles.
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, cerca de 40% da costa brasileira enfrenta um processo severo de erosão. “As causas são variadas”, disse Turra, “incluindo a retirada de areia de rios, a construção de barragens, alterações nos padrões de chuva, mudanças climáticas e o modelo de ocupação local”.
No caso de Barra do Una, a ocupação da bacia hidrográfica tem alterado a foz do rio. “Esse é um movimento natural que ocorria no passado geológico ou em períodos sem interferência humana”, afirmou o professor.
“Nós temos um fenômeno natural que sempre aconteceu, agora interagindo com as atividades humanas”, ressaltou Alexander Turra. A intervenção humana, como o uso da água na bacia hidrográfica e construções, pode comprometer o equilíbrio sedimentar.
O impacto no balanço sedimentar resulta de mudanças na posição da “boca do rio”. “Isso influencia as interações com correntes marítimas ao longo da costa e o padrão de deposição de sedimentos”, explicou o pesquisador.
Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas contribuem para essa situação. Alexander Turra aponta que o nível do mar está subindo cerca de 4 milímetros por ano no litoral de São Paulo. “Isso interage com o cenário, mas não é necessariamente a principal causa, que está mais relacionada à dinâmica fluvial”, afirmou. No entanto, a ocupação humana pode exacerbar essas interações.
Vegetação
A erosão afeta não apenas áreas habitadas, mas também vegetação como restingas e manguezais, além da flora sobre as praias. Turra alerta para a necessidade de garantir que esses ambientes naturais, que possuem importantes funções ecológicas, possam se adaptar ao aumento do nível do mar. “Quando isso não acontece, criamos ocupações que impedem a realocação desses ambientes, resultando na perda de benefícios como o turismo litorâneo.”
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