Quem conhece a história pela metade e só ouviu falar que o vice-governador João Leão (PP) soube que não assumiria o Palácio de Ondina pelos próximos 9 meses pelo rádio pode até imaginar que o Bonitão não tem muita importância no jogo político. O engano fica evidente olhando os dias seguintes à entrevista do Senador Jaques Wagner (PT), com Leão ameaçando deixar a base do Governo onde está há 14 anos e vendo uma série de cortejos públicos a um dos políticos mais poderosos da Bahia. Mas por qual motivo Leão é tão importante? É o que vamos explicar nas próximas linhas.
Para começo de conversa, Leão preside o partido que tem o segundo maior número de prefeituras na Bahia, o PP. A sigla saiu vencedora em 92 dos 417 municípios baianos durante as eleições intermediárias em 2020, que elegeu prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras. À frente do PP, somente o PSD do senador Otto Alencar, vencendo em 102 municípios.
Cientista político e professor da Unilab, Claudio André explica a importância de ter ‘a máquina’, ou poder, nesses municípios: “Significa quase 1/4 das prefeituras da Bahia. É fundamental para o pleito a governador e passa a ser muito cobiçado, independente de qualquer coisa, um partido desse tamanho passa a ter uma importância gigantesca na chapa”, explica o professor.
O PP também é importante dentro da Assembleia Legislativa baiana (AL-BA). O PP tem 8 deputados em exercício na casa, quase 13% dos 63 totais. Na bancada de maioria (formada por PC do B, PDT, PL, PP, PSB, PSD e PT), só não tem mais deputados estaduais do que PT (11) e PSD (10) e, junto aos dois, é o único partido com mais de 6 deputados na casa. A maioria conta com 44 parlamentares.
Todo esse contexto ajuda a compreender a importância do PP, que por si só já seria forte. E essa força se deve, em muito, ao nome de João Leão. Deputado federal por 5 mandatos consecutivos entre 1995 e 2015, prefeito de Lauro de Freitas entre 1989 e 1993 e no seu segundo mandato como vice-governador, que ocupa desde 2015, o Bonitão é um dos políticos mais experientes da Bahia, mesmo nascido em Pernambuco.
Esses fatores fazem com que, mesmo estando no grupo opositor, o prefeito Bruno Reis (DEM) foi a público dizer que Leão “preenche todos os requisitos para ser senador”.
“Leão conhece profundamente a Bahia, foi deputado por cinco mandatos, duas vezes vice-governador, foi secretário por várias pastas. Tem muito a contribuir. Pode ajudar muito Neto a governar a Bahia, sem sombra de dúvidas”, disse.
Mensageiro da confirmação de que Leão não seria Governador nos próximos 9 meses, o Jaques Wagner pediu desculpas públicas a João Leão quando os dois estavam em Brasília, e alegou que não contou nada a Leão, antes, porque não queria ver a estratégia vazada: “entendo a tristeza do PP, de Leão e de Cacá é comigo porque fui eu a pessoa a negociar tudo. Eu não tive o tempo, porque não queria que ficasse vazando nada. É um sofrimento porque não deu certo, João Leão é uma pessoa que gosto muito. Peço desculpas publicamente a ele e ao PP”, disse em entrevista exclusiva ao NT nesta quarta-feira (9).
Outro candidato ao Governo da Bahia, João Roma também quer Leão ao seu lado para o pleito. Ministro da Cidadania, Roma (Republicanos) quer aproveita que nacionalmente, o partido de Leão, o PP, é aliado do PL de Bolsonaro e do Republicanos de Roma. “Seria muito bom se buscássemos reproduzir na Bahia a aliança nacional entre o PL, o PP e o Republicanos. Isso, sem dúvida nenhuma, poderia mostrar um novo caminho para a Bahia”, disse o ministro, em entrevista ao NT.
Desde o ano passado, Roma tenta trazer o vice-governador para a sua base, na época, Leão disse que era mais fácil o PP atrair o ministro e chegou a ironizar: “Gosto muito dele, mas está começando agora, eu tenho quilômetros de estrada na política e muito mais farinha no saco que ele”.
O PP é um partido de vida complexa. Enquanto na Bahia o grupo esteve aliado ao PT durante os últimos 16 anos do partido no poder, nacionalmente a história difere. Segundo Claudio André, o PP sempre foi um partido muito importante na arena política nacional. “Um partido de bancadas médias, de baixo clero, mas um partido fisiológico, que foi importante na manutenção da governabilidade brasileira nas últimas décadas”, explica.
Desde a queda de Dilma Rousseff (PT) por impeachment em 2016, o Progressistas foi na contramão petista e continuou no governo. Foi assim com Michel Temer e passou a ser da mesma maneira com Jair Bolsonaro (PL), atual presidente, quando passou a ser protagonista. Hoje, o PP tem inclusive o ministro da Casa Civil, na figura de Ciro Nogueira.
“É uma liderança de peso, com um partido enraizado na Bahia: vereadores, prefeitos, diretórios, tem também uma importância no âmbito nacional e eu vejo que ele, embora ele seja importante, seja decisivo. Ter o PP não é sinal de ganhar ou perder. Mas é relevante e o PT sabe disso. O PT sabe que João Leão é uma figura importante, que agrega politicamente e é nesse tom que ACM Neto vê para atrai-lo para se viabilizar e ganhar mais musculatura política”, disse Claudio André.
Essa maleabilidade política somada ao poder regional dentro da Bahia é o que faz do PP um ‘player’ importante para a política local. E isso explica muito dos porquês de João Leão, figura central da sigla na Bahia, ser o bonitão mais desejado no Estado.
FONTE: bnews
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