Os países aceleram as campanhas de vacinação para acabar com a pandemia de coronavírus, mas outro desafio surge para alguns governos e economias mais vulneráveis.
Os preços globais dos alimentos estão no maior nível em mais de seis anos, puxados por vários fatores, como custos da soja, óleo de palma, demanda da China, cadeias de suprimento vulneráveis e clima adverso.
Alguns bancos alertam que o mundo está caminhando para um “superciclo“ de commodities. A inflação causa mais pressão em consumidores já atingidos
pela recessão causada pela pandemia e – em alguns lugares – pela desvalorização cambial.
“Esses aumentos de preços são desestabilizadores, não apenas porque induzem muitas dificuldades às comunidades e famílias, mas também porque
há essa expectativa de que o governo fará algo a respeito”, disse Cullen Hendrix, pesquisador sênior não residente do
Instituto Peterson de Economia Internacional, um think tank com sede em Washington. “As implicações vão durar mais tempo e além da pandemia.”
Como sempre, o impacto é desproporcional. Nos países ocidentais ricos, pode ser apenas um caso de troca de marca de produto.
Nas nações mais pobres, pode significar a diferença entre mandar uma criança para a escola ou às ruas para ganhar dinheiro.
Brasil: pressão populista
A economia brasileira se destaca entre os mercados emergentes por mostrar o aumento mais rápido dos preços dos alimentos nos
últimos 12 meses em relação à inflação geral por causa da alta sustentada do dólar frente ao real, de acordo com a Oxford Economics.
A popularidade de Jair Bolsonaro caiu e está perto de mínimas históricas, e agora o presidente tenta encontrar maneiras de apaziguar
o eleitorado. Além da demissão do presidente da Petrobras por causa dos preços dos combustíveis, Bolsonaro também tem pressionado
por uma nova rodada de ajuda para pessoas de baixa renda depois que o auxílio foi encerrado em dezembro.
O problema é que o dinheiro serviu para elevar os preços dos alimentos, segundo Maria Andreia Lameiras, pesquisadora do Ipea.
O arroz aumentou 76% no ano passado, enquanto o leite e a carne bovina subiram mais de 20%. Segundo ela, o governo distribuiu
dinheiro para a população com maiores gastos com alimentação.
Rússia: lição de história
Preços em alta e prateleiras vazias após o colapso da União Soviética ainda fazem parte da memória de muitos russos.
Com a popularidade no fundo do poço e protestos exigindo a libertação do líder da oposição Alexei Navalny, o presidente Vladimir Putin está
preocupado com o impacto político dos custos dos alimentos.
Nas últimas semanas, o maior exportador de trigo do mundo impôs tarifas e cotas destinadas a limitar as vendas no exterior e reduzir os
preços internos. Os maiores varejistas da Rússia também foram obrigados a congelar alguns preços dos alimentos.
Os preços das batatas e cenouras, por exemplo, subiram mais de 30% em relação ao ano passado.
Mas tais controles podem sair pela culatra e acabar alimentando a inflação geral.
A Câmara de Auditoria, órgão fiscalizador do governo, estimou em janeiro que os preços dos alimentos vão subir quando as restrições forem suspensas no final de março.
Nigéria: tempestade perfeita
Os preços dos alimentos na maior economia da África respondem por mais da metade do índice de inflação do país e subiram no ritmo mais rápido em mais de 12 anos em janeiro.
Uma família nigeriana média gasta mais de 50% do orçamento com comida.
Os custos se somam a uma tempestade perfeita de desafios à segurança alimentar que tem assombrado a Nigéria durante a pandemia.
As reservas de moeda estrangeira necessárias para importar bens secaram após a queda dos preços do petróleo.
Gargalos de abastecimento e ataques a agricultores também pesaram sobre a oferta de produtos agrícolas.
Também houve escassez de alimentos básicos, como arroz, depois que as autoridades restringiram as importações e fecharam as fronteiras terrestres por 16 meses.
As fronteiras foram reabertas em dezembro, mas isso aliviou pouco a inflação.
Turquia: líder irritado
Como o maior consumidor per capita de pão do mundo e maior exportador de farinha, a Turquia está particularmente exposta a uma alta nos
mercados de commodities. Os preços dos alimentos aumentaram 18% em janeiro em relação ao ano anterior, com grandes saltos dos produtos básicos, dos grãos aos legumes.
A Turquia enfrenta inflação de alimentos de dois dígitos há anos, mas as implicações políticas para o presidente Recep Tayyip Erdogan aumentam à
medida que os custos dos alimentos atingem sua principal base de eleitores, juntamente com a desvalorização da lira.
Índia: ato de equilíbrio
Com as terras mais aráveis depois dos EUA, a Índia é o maior exportador mundial de arroz e o segundo maior produtor de trigo.
Ao mesmo tempo, milhões de pessoas não têm acesso a alimentos baratos e o país mostra uma das taxas mais altas de desnutrição infantil.
Embora os custos dos alimentos básicos tenham aumentado mais lentamente nas últimas semanas, o grupo continua no centro das tensões políticas
que têm dominado a Índia. Houve protestos de agricultores sobre uma medida do governo do primeiro-ministro, Narendra Modi, para liberalizar o mercado
de produtos agrícolas. Agricultores temem que a nova lei baixe os preços.
Fonte: Yahoo
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