Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos contratos futuros de juros do Brasil fecharam a sexta-feira em baixa, em especial entre os contratos mais longos, com os investidores repercutindo os dados mais recentes do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que elevaram as apostas de que o Federal Reserve pode não subir mais sua taxa básica este ano.
Foi o segundo dia consecutivo de queda nas taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs), após o Banco Central ter dado a largada na noite de quarta-feira no ciclo de redução da taxa básica Selic, com corte de 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
Como o corte contrariou boa parte do mercado, as taxas futuras tiveram queda firme na quinta-feira, com investidores ajustando a precificação da curva a termo.
Nesta sexta-feira, na abertura dos negócios, os juros futuros chegaram a abrir com viés positivo, ensaiando certa recuperação, mas os dados do mercado de trabalho dos EUA, divulgados às 9h30, alteraram a perspectiva.
O Departamento do Trabalho informou que a economia dos EUA gerou 187 mil postos de trabalho em julho, abaixo dos 200 mil postos projetados por economistas ouvidos na pesquisa Reuters. O setor privado gerou 172 mil vagas, ante 179 mil esperadas, enquanto o setor público abriu 15 mil novos postos.
Apesar de os dados mostrarem ganhos salariais fortes, o resultado reforçou as dúvidas sobre a necessidade de mais uma elevação de juros pelo Federal Reserve este ano.
Em reação, os rendimentos dos Treasuries cederam nos EUA e as taxas futuras passaram a cair no Brasil — com maior intensidade na ponta longa da curva, onde os estrangeiros atuam preferencialmente.
“O relatório de emprego veio abaixo do esperado. Isso alivia as preocupações em relação à política monetária americana, elevando apostas de que Fed não vai subir mais os juros”, resumiu Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG).
“Durante a semana, houve um movimento de aversão a risco que prevaleceu nos mercados globais. Hoje (sexta-feira) este movimento está se revertendo parcialmente, com os juros futuros recuando, os rendimentos dos Treasuries caindo e o dólar em baixa”, acrescentou.
Com a agenda de indicadores vazia no Brasil, a direção para os DIs foi dada pelo exterior.
De acordo com o economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, o mercado de trabalho nos EUA está desacelerando, “em um ambiente de moderação da inflação”.
“Isso deve dar tranquilidade ao Fed para manter a taxa de juros estável na reunião de setembro”, disse Barbosa.
Na tarde desta sexta-feira, os títulos norte-americanos precificavam 86,5% de probabilidade de o Fed manter sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50% em setembro.
No Brasil, o recuo dos juros futuros nos últimos dois dias, aliado às sinalizações do Banco Central sobre o futuro da política monetária, consolidou a percepção de que haverá novo corte de meio ponto percentual da Selic em setembro.
Perto do fechamento, a curva de juros brasileira precificava 77% de chances de o Copom cortar a Selic em 0,50 ponto percentual em setembro, contra 23% de probabilidade de baixa de 0,75 ponto percentual. Os percentuais são semelhantes aos vistos na véspera.
Em entrevista em São Paulo nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que se o governo continuar aprovando medidas no Congresso, o BC pode inclusive fazer cortes maiores do que 0,50 ponto na Selic.
Os contratos mais curtos, menos afetados pelo exterior, terminaram praticamente estáveis.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,47%, ante 12,454% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,48%, ante 10,473% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 9,94%, ante 9,97% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,085%, ante 10,111%. O vencimento para janeiro de 2028 marcou 10,36%, ante 10,396%.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 14,90 pontos-base, a 4,0398%.